sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bye Nigeria!

(Finalmente) chegou a hora de ir embora.
Tenho repensado sobre tudo que vivi aqui na Nigéria e cheguei na conclusão de que foi uma viagem decisiva na minha vida. Essa viagem definiu quem eu sou e tenho certeza de que sou uma pessoa melhor por causa dessa experiência.
Sabe, a Nigéria ganhou sua independência faz 60 anos. Isso não é nada para eles. Tudo aqui é uma batalha. Tudo é uma luta (que nem sempre é vencida). Esses dias o diretor de uma ONG comentou que infelizmente o ser humano se acostuma até com as coisas ruins.
Já pensou você morar num país onde não há coleta de lixo? Já imaginou ver uma criança urinando em cima de um lixão e o bumbum dela encostar num pedaço de frango podre? Aí você lembra que, em algum lugar próximo desse lixão, você viu 4 crianças em volta de uma panela, todas elas depenando uma galinha e jogando os pedaços em cima da terra. Não sei como passar o que sinto pra vocês. Essas imagens ficarão pra sempre no meu coração e eu espero conseguir fazer o melhor delas.
Por mais que o projeto nunca tenha começado e, por mais que eu tenha apenas visitado 3 escolas, tudo valeu a pena. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”! Com essa experiência eu aprendi que nem tudo depende da minha boa vontade - O buraco da África é muito mais em baixo!       Eu vejo o quanto esse povo foi, e ainda é, massacrado. Antes pelos brancos, agora por eles mesmos.( Tô com vontade de chorar). Minha missão foi cumprida mas infelizmente eu só cumpri aquilo que o destino me permitiu concluir. Essa maldita greve e a cultura deles foram uma barreira e tanto. E eu estou exausta.
Eu fico feliz porque eu estou voltando pra casa. Vou voltar pra minha cama, pro meu chuveiro elétrico e pra minha faculdade que tem eletricidade e internet. Vou voltar para uma casa onde há luz e água limpa. Eu sei que “from an outsider’s perspective” eu pareço ser apenas mais uma menina mimada. Mas eu não sou, OK? Há uma frase que diz “You don’t know what you have until you lose it”. Voilá!! Sobreviver sem todos esses luxos tão básicos é muito, mas MUITO foda.
Vou voltar pra minha cidade, onde há caminhão de lixo, esgoto e comida. Vou voltar pra uma casa onde as mulheres têm o direito de expor o que sentem e vou voltar pra uma sociedade em que as mulheres podem dizer “NÃO” quando não estão a fim de “fuck”. E digo “fuck”porque é essa a palavra que os homens usam aqui. Nunca escutei alguém dizer a frase “ to make love” na Nigéria. Todos os homens com quem conversei (até mesmo os do AIESEC) acreditam que é dever da mulher satisfazer o homem sexualmente. Eu tentei explicar pra eles que no Brasil é (quase) o contrário. Ha ha ha
Fico feliz e tenho orgulho de ser brasileira! Cara, olha tudo que o Brasil tem? Temos um sistema de saúde que é exemplo para o mundo inteiro! Aqui , a pessoa que fica doente é obrigada a procurar um curandeiro. Eles pagam para os curandeiros fazerem bruxarias e curarem os doentes – principalmente os infectados com o vírus da Aids.
Olha quantas universidades nós temos no Brasil? O Brasil está cada vez melhor e eu boto fé no nosso futuro. Qualquer  favela do Brasil é mil vezes melhor que a Nigéria.
Tá, sem peso na consciência, vai...?  Estou voltando pra casa. Amém.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Nigéria




Faz um bom tempo que não atualizo esse blog. Não havia nada de bom para escrever aqui e, pra ser bem sincera, eu continuo não tendo muitas coisas boas para dizer. Mas apesar dos pesares eu sinto que é necessário relatar as coisas que vivencio aqui.
O projeto no qual eu deveria estar trabalhando nunca começou. O governo resolveu retirar o subsídio do petróleo e o povo nigeriano se revoltou (com razão) contra o presidente. Consequentemente as escolas públicas fecharam suas portas e eu fiquei em casa chupando dedo. A palavra que mais escuto aqui na Nigéria é “tomorrow”. Tudo é para “tomorrow”. Nada aqui é fácil. Nunca há eletricidade, o transporte público é uma merda, não há internet, e a cultura deles atrapalha tudo!
É difícil descrever as barreiras que encontro todos os dias. Hoje, por exemplo, tomei banho com uma água preta. Fingi que não era comigo, fechei os olhos e joguei o baldinho de água com areia no meu corpo. É o jeito. Já desenvolvi uma super técnica de urinar em pé. Agora já como a maioria das comidas nigerianas sem ter que passar pelo inferno duas horas mais tarde.
Bom, o maior problema que enfrento aqui é a crise! Aqui na Nigéria há mais de 500 tribos, mas há apenas duas classes de pessoas: cristãos e muçulmanos. A crise é mais política do que religiosa e o problema é que o POVO não sabe disso. O governo faz de tudo para que o povo continue ignorante e para que o povo continue acreditando que essa guerra é religiosa. (Acho que já vi esse filme em algum lugar...!?) As pessoas se matam por religião aqui. Não conheço nada sobre a religião muçulmana e portanto não posso julgar, mas sou católica praticante e não admito que alguém mate em nome de Jesus. Enfim, essa viagem está sendo uma verdadeira prova de fé. Há dias em que me pergunto se Deus realmente existe, e me pergunto se ele esqueceu do povo africano. Não entendo como esse lado do mundo pode ser tão....tão...tão abandonado! Me corta o coração.
Tudo, tudo, tudo aqui é uma novela e meu estado emocional chegou no seu ápice. Vou explodir a qualquer momento.
A parte mais doida da minha trip aconteceu faz dois dias. Supostamente, enquanto voltávamos de uma cidade, um carro qualquer atropelou uma criança que morava numa vila local. Imediamente todos os homens da vila saíram correndo pela estrada com a intenção de queimar todos os carros que estavam ali. Quando eu menos esperava olhei para a rua e vi pessoas correndo, carros dando a volta, pessoas berrando. Parecia o fim do mundo. E era! O motorista do nosso ônibus havia saído do carro para conferir o que estava acontecendo e por uns 3 minutos ficamos buzinando para que ele voltasse para o veículo. Ele voltou para o “bus”e dirigiu o mais rápido que ele pôde. Fizemos de tudo para achar um local seguro para estacionar. Havia um padre (muito doido) conosco e ele não parava de dizer:
-          Vamos, corre! Anda! Se esse povo entrar aqui eles vão cortar o nosso pescoço! Vocês não entendem?

Nessa hora eu senti muita, mas muita vontade de chorar. Mas eu estava com as minhas amigas brasileiras e chorar não era a melhor coisa a fazer. Tenho cuidado delas como uma irmã mais velha. Não sei se tenho feito um “good job”mas é essa a minha intenção. Enfim, quando finalmente paramos o carro num “barzinho” eu pedi para que elas me dessem as mãos e eu rezei como nunca havia rezado antes. Há uma frase que diz:  “No creo en las brujas, pero que las hay las hay”. Nessas horas toda a fé do mundo não basta.

Olha, sobrevivemos. E eu sei que “quem procura acha”. Várias vezes eu já me perguntei o que é que eu estou fazendo aqui. Quando eu chegar em casa vou digerir melhor toda essa minha aventura e decidir o que é que eu posso retirar de bom dessa experiência.

Agora eu só sei que eu quero a minha mãe!!!!

ps: vai acabar a bateria do pc e não tenho tempo para corrigir esse post. Bear with me folks.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

My Second Week in Africa

Meu Natal foi muito diferente esse ano. Todos acordaram cedo para rezar e após isso nós nos reunimos com os vizinhos no quintal da casa. (Aqui na Nigéria é comum duas famílias comprarem um mesmo terreno e o dividirem para que cada família construa sua própria casa). Enfim, todos os anos essas famílias se reúnem no dia 25 de dezembro e cada família traz um pouco de arroz e um molho horrível super apimentado. Eles fazem uma mistureba com o que cada família trouxe e cada um come um pouco daquilo. Gostei da ideia. 
Também fomos à Igreja, e eu me diverti muito lá. As mulheres usavam uns chapéus bizarros e todos berravam, dançavam, falavam em línguas, pulavam, cantavam...hahaha A coisa da qual eu mais tinha medo aconteceu: um homem pediu no microfone para que eu ficasse de pé. Eu levantei  e imediatamente todos da igreja começaram a cantar uma música pra mim – Esse foi o meu presente de Natal. 

Uma mulher me convidou pra ir até à casa dela provar “uma verdadeira comida nigeriana”. Nessa hora eu me imaginei sentada no banheiro por 3 horas, com dor de barriga, chor(cag)ando. Enquanto caminhávamos até a casa dela eu pensava:
-O que será essa comida? “Nega Maluca”? haha Arroz com feijão? Bife Acebolado? Uma saladinha gostosa? Um camarãozinho ao bafo?
 Nada disso! Ai...Quem me conhece sabe que, embora eu tenha 1,73 de altura, eu sempre digo a mesma palavra quando estou em apuros:    “mamãe”!!!  Na hora que eu vi aquele prato cheio de uma gosma que parecia berrar “CUIDADO - PIMENTA” eu pensei: holly shit. E foi exatamente isso o que aconteceu duas horas mais tarde. SOCORRO!! haha 

Confesso que sinto muita falta do conforto que eu tinha lá em casa. O chuveiro à gás, meu quarto com ar condicionado, meu computador, a eletricidade, a internet, minhas maquiagens, cremes, o salão de beleza, a Ení ( Ení é a moça que trabalha lá em casa). Enfim, eu só sei que eu trouxe todos os utensílios errados pra esse continente. Meus cremes foram substituídos pelos repelentes, minhas unhas estão pretas e não há acetona por aqui, meu pé está nojento, e a maquininha de depilação não funciona já que quase nunca há eletricidade. Eu trouxe secador de cabelo, apenas duas giletes, e até um sapato de salto alto eu trouxe. Uma das únicas coisas inteligentes que eu fiz foi trazer lenços umedecidos - Eles estão salvando a minha pele porque não existe papel higiênico aqui. Cortei todos os lencinhos em 6 pedaços iguais e os coloquei num potinho.
– Mamãe!!!! hahaha
Eu estou amando a minha estadia na Nigéria mas estou aprendendo que vaidade não é tudo nessa vida. E essa está sendo uma lição muito difícil pra mim. Ontem (com muita raiva) fiquei tentando lembrar de todas as coisas “fúteis”que me aguardam em casa e lembrei que há uma jaquetinha de couro novinha esperando por mim. 

Semana que vem eu finalmente começo a trabalhar! O plano é o seguinte:    Três vezes por semana eu irei dar palestras em escolas públicas e privadas. Vou falar sobre as maneiras de prevenir Aids e também sobre as milhões de consequências da Aids. E, duas vezes por semana, eu irei trabalhar numa ONG que ajuda pessoas que já possuem Aids. Também vou dar palestras para algumas tribos que vivem em vilas distantes. Com essa ONG eu vou realizar exames para diagnosticar as pessoas infectadas. Assim poderemos saber o número de pessoas infectadas por área e desenvolver futuros planos. Que TUDO!!!!!!
Ai, ai....Estou com saudades de casa, mas confesso que estou amando tudo isso aqui. Não há nada melhor do que realizar um sonho, não é? Como eu já disse, estou aprendendo a ser feliz aqui. Há alguma coisa acontecendo dentro de mim, estou inquieta e com vontade de sorrir o tempo inteiro. Enfim, eu descobri que aqui na África há uma coisa chamada “chupa chups de cerveja”!!!! Hahah Deve ser por isso que eles são tão felizes...haha

Cruje-Cruje – TCHAU! (pra quem lembra)








quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

My First Week in Africa

Oi pessoal.
Consegui vir até à capital da Nigéria onde tudo funciona melhor e vou finalmente conseguir postar nesse blog .........(retirem o que eu disse sobre tudo funcionar melhor, a internet não funciona direito aqui e eletricidade é precária também)
Minha vida na Nigéria está sendo uma daquelas experiências que muda a tua vida, sabe? Aqui tudo se resume em terra árida; 99% da população não tem acesso à água encanada e eletricidade é sinônimo de instabilidade. Ontem, por exemplo, fiquei sem luz desde o período da manhã até a hora de dormir.
 É comum ver galinhas comendo lixo por aqui...E depois te trazem FRANGO pra tu comeres no jantar. Aff haha     Se fosse possível eu vomitaria todos os milhões de sushis os quais já comi por extrema gula.
Tenho vontade de dizer a eles que eles merecem coisa melhor; que todos têm direito à saúde.
Enfim, eles estão (são) acostumados com esse estilo de vida e são muito felizes. E COMO são felizes!!! As mulheres cantam o dia inteiro e soltam umas gargalhadas espontâneas e gostosas de se ouvir. As crianças correm nas ruas para me ver passar e exclamam “white girl, white girl”!!! haha (Eu me divirto)
Todos me dizem MIL VEZES por minuto: “Welcome, welcome, welcome, welcome”.
E eu respondo: “Thank you, thank you, thank you”.
 A minha família nigeriana me acorda às cinco da manhã todos os dias para rezar. Eles cantam umas músicas lindas sobre Jesus e isso me motiva muito. É uma ótima maneira para se começar o dia - I enjoy it. Fui à Igreja com meu irmão nigeriano e, embora eles não sejam católicos, a experiência foi válida. Tudo aqui é válido.
Ok, A NOVIDADE:     Fiquei sabendo que não posso  comunicar os adolescentes das escolas públicas sobre o uso de preservativos!!!??? WHAT???? Pois é, o governo da Nigéria não nos permite falar sobre camisinhas. Imagina só:
-          Crianças, transar é ruim, nem é bom. Nunca façam isso. Mesmo após o casamento, tá? É horrível e faz mal pra pele...
Me disseram que posso utilizar argumentos cristãos e falar sobre castidade, mas isso realmente não estava nos meus planos. A maioria da populaçao é soro positivo e não adianta praticar a castidade durante a juventude e casar-se com uma pessoa doente depois - e botar mais bebês doentes nesse mundo...“Porrã...assim fica foda”. Dá vontade de mandar um bilhetinho secreto às crianças:
-          Usem camisinha!!! Para mais informações mande um e-mail para salve-se@gmail.com
Ontem vi uma placa que dizia mais ou menos assim: Aids tem cura! Procure-nos!! AHHHH!!!!!!!!!!!! Parece pesadelo, Senhor.
Mudando de assunto, ontem andei de taxi pela primeira vez aqui. Mas não são carros, são motos! Haha Que aventura!  Já que por aqui não há sinalização de trânsito , as milhões de motos andam por onde bem entendem, conseguindo passar entre espaços de aproximadamente 20 centímetros.
Anyways, estou aprendendo a ser feliz de verdade aqui. As pessoas são tão geniais que aos poucos não vejo mais a sujeira. Eu sempre achei que eu precisasse muito de Deus, mas agora vejo o quanto Deus precisa de mim. Os milagres acontecem por intermédio das pessoas também, e eu espero conseguir fazer a diferença nesse caos chamado África.
Um Feliz Natal - Que Jesus consiga renascer no coração de todas as almas nesse Natal.
Mil beijos


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

AFRICA IN A FEW DAYS

Espero que os “corretores gramaticais de plantão” possam bear-with-me-here.

Nosso Destino: NIGÉRIA!!
Pra ser bem sincera, tenho medo de que tudo isso seja apenas mais uma daquelas ideias fanáticas e idealistas que eu costumo ter. Possuo uma mania insuportável de querer mudar o mundo e de romantizar todas as coisas. Sou do tipo de gente que acredita naquela teoria que diz:  No final tudo dá certo, e se não deu certo é porque não chegou ao fim.
Tenho uma fé infinita na raça humana e sonho com o dia em que todos terão Deus no coração e comida na mesa.         (Se você não acredita em “Deus”, troque essa palavra por “AMOR” e chegaremos num acordo)
 
Então, como eu já disse, estou indo para a África daqui alguns dias! Lá eu vou trabalhar como voluntária na área de promoção de saúde e prevenção de HIV. Nosso foco principal serão as favelas e as escolas carentes de Makurdi, Buene State.
Legal, né?    (Count me in!!!!)
Tenho sede. Sede de cultura, sede de justiça, sede de passar um pouco do amor que recebo adiante.

Acho que vou viver e sentir muitas coisas dignas de serem divididas...

... E eu vou, SIM, mudar o mundo. Nem que seja o mundo de algumas pessoas.